terça-feira, 14 de julho de 2009

Perder a batalha não significa perder a guerra!

Mania de brasileiro: ao primeiro obstáculo, a nossa mente gera uma quantidade sem número de monstros imaginários, capazes de gerar a sensação de impotência absoluta diante de determinada situação.
Pois bem. Como uma sociedade eternamente "em construção", recebemos, geração após geração, o fardo de termos que "dar certo". A cada nova geração de brasileirinhos e brasileirinhas, seus pais, orgulhosos, comentam irremediavelmente: "Esse(a) vai dar certo!"
Mas o que seria "dar certo"? Qual a definição deste verdadeiro "carma"?
Se estivéssemos inseridos em uma sociedade realmente desenvolvida, "dar certo" fatalmente significaria crescer levando-se em conta alguns princípios como honestidade, decência, respeito aos mais velhos, a fortaleza para o enfrentamento de qualquer desafio imposto, dizer, sempre, "obrigado" e "com licença", entender o que significa a tal "ética do trabalho" e, certamente, completar o ciclo educacional, tornando-se, assim, um ser minimamente culto e educado.
Em uma sociedade organizada e razoavelmente desenvolvida, qualquer pai sentiria-se orgulhoso ao ver o seu sucessor alcançar este estágio de evolução e de comportamento. Sim, pois em uma sociedade organizada, com oportunidades para os que queiram aproveita-las, pessoas honestas, probas, decentes, trabalhadoras e educadas, cientifica e humanamente, sempre alcançarão a posição que lhes é reservada para a continuidade do desenvolvimento daquele ambiente social. Normalmente atuarão no mercado de trabalho local, promovendo o desenvolvimento econômico social e próprio, e constituirão alguma forma de família, dando continuidade aquele sistema social. É um verdadeiro "ciclo lógico", onde toda a sociedade atua, em conjunto, como que em um engrenagem.
Mas no Brasil, será que "dar certo" possui este significado?
Com as desculpas de sempre, entre as quais a de que somos "brasileiros", "diferenciados", "criativos", "espontâneos", entre outras, o termo "dar certo" adquire outros contornos em nossa sociedade. Aqui, em todo o canto desta enorme desordem de nome Brasil, "dar certo" significa tornar-se rico, próspero financeiramente, não importa de que forma e através do que.
Para os atuais brasileiros, ver seus filhos "darem certo" significa observá-los, daqui alguns anos, andando em carrões importados, ostentando belíssimos e vultosos cargos, vestir-se com as roupas das grifes e marcas mais famosas. Poucos os pais que se preocupam qual o caminho, e de que forma este deverá ser trilhado, para que seus filhos usufruam de todo este "sucesso".
E desta maneira, questões como ética, educação, cordialidade, respeito, trabalho, honestidade, probidade....caem em verdadeiro desuso.
Obviamente, existem exceções. Famílias realmente devotadas à transmissão de valores sociais relevantes aos seus sucessores. Mas, como a frase já demonstra em seu início, tratam-se de exceções, cada vez mais raras, diga-se.
O "dar certo" no Brasil significa possuir riqueza material em abundância, custe o que custar.
E assim, desta maneira torpe e distorcida, estamos a construir, diariamente, o nosso futuro como sociedade, como nação. E que futuro!
Portanto, antes de criticar algum Senador por ter utilizado de verbas estranhas para viagens ainda mais esquisitas, ou antes de criticar qualquer político por um determinado comportamento que, em tese, não se coadunaria com o cargo ocupado, olhe-se no espelho. Verifique a imagem que surgirá. E analise se esta imagem traz consigo um ser completamente probo, que jamais passou a perna em alguém para atingir um resultado tão pequeno quanto egoísta. Verifique se o ser que surgirá no espelho recolhe todos os impostos que recaem sobre a sua atividade profissional. Analise se o ser ali disposto já conversou com seus filhos, uma única vez, sobre ética, sobre respeito aos mais velhos. Olhe nos olhos do ser que ali surge e questione se ele já desrespeitou alguma norma, crente de que nada ocorreria.
Cada sociedade possui os representantes que merece e o futuro que constroi.
Mas, na minha modestíssima opinião, ainda podemos reverter esse jogo, gerendo gerações que se comprometam com alguns valores que, se aplicados, certamente nos alçarão a uma condição social muito melhor do que a atual.
Basta um pitada de vontade. De boa-vontade. Aliada a uma grande dose de comprometimento. Basta que desejemos e realizemos um novo modelo de sociedade, construindo-a cotidianamente a partir de nossos filhos, transmitindo-lhes valores sociais divergentes dos que atualmente imperam.
Talvez não aproveitemos nada desta "nova sociedade". Mas, certa e precisamente, seremos lembrados como a geração que percebeu os seus equívocos e resolveu reverter o curso das coisas, deixando aos nossos sucessores uma herança bendita: a possibilidade do real e irreversível desenvolvimento social e, consequentemente, econômico.
Estamos no cerne desta guerra, denominada "construção social". Já perdemos inúmeras batalhas. Mas ainda não perdemos a guerra. Basta acreditar.
Eu acredito.

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