segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O refúgio da alma.

Nos atribulados e agitados dias de hoje, é cada vez mais corriqueiro nos depararmos por aí com almas verdadeiramente "perdidas". Não me refiro àquelas que teimam em realizar atos que mais se aproximam do suicídio, como alguns vícios "pesados"; refiro-me àquelas que não amam. Essas sim as realmente "perdidas".

O amor, em sua plenitude, é o refúgio da alma. O local predileto dela. Onde ela gosta de passar os seus fins-de-semana de Verão.

Quando nos deparamos com essas tais almas "perdidas", logo percebemos: é fácil notar quem ama. Assim, por exclusão, quando cruzamos com as que não amam, damos de cara com estas tais...

Quem ama sorri. Sorri para a vida. Dá risada à toa. E assim faz por que está Feliz. Deste modo, podemos concluir que quem está Feliz já conseguiu fazer com que a sua alma encontrasse seu amor, encontrasse o seu refúgio.

As almas "perdidas" morrem de inveja das almas "encontradas"... ou você nunca ouviu alguém dizer: "Aquela pessoa está rindo à toa, apaixonada, parece uma idiota!"

Pura inveja, já que as almas "encontradas" são capazes de mudar o ritmo do dia-a-dia. E se possuem tal poder, podem, certamente, mudar a História. Quantas músicas maravilhosas, livros inesquecíveis, o Homem já não promoveu por amor?

Mas as almas "perdidas" também são capazes de mudar o rumo das coisas... Mas de maneira pejorativa, nunca positivamente. A inveja é, verdadeiramente, um sentimento dotado de força, de expressão, cujo único antídoto é o amor: ignorar os invejosos é um ato de amor. E essa atitude cria tamanha irritação nessas "tranqueiras" (os invejosos) que eles se esquecem da inveja...

Um dos "modelos" de alma mais perigoso é o das almas que estavam "encontradas" e que, de repente, tornam-se "perdidas". Nunca é fácil tratar o sentimento da perda do amor. Mesmo a dor de perder um "amorzinho" é ruim. Imagine, então, a dor de perder um "amorzão"?

Quem já viveu essa experiência, atesta: dói no peito! E essa dor, se não for bem administrada e tratada, se transforma em um perigo só! Tem gente que até, por conta dela, é capaz de matar...

Mas o melhor jeito de tratar desta dor é com carinho: doses cavalares de carinho na alma, administradas 3 vezes ao dia, apaziguam essa sensação; e logo, logo a alma torna-se capaz de amar novamente! Acreditem!

Quando você perceber que está rindo por nada e que acha o piar dos passarinhos mais bonito que uma música romântica, acredite: a sua alma, meu caro, encontrou o seu refúgio!





quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Mafiosos ou Anarquistas?

A polícia italiana iniciou, nos últimos dias, uma grande operação com o intuito de evitar que o projeto de reorganização da máfia siciliana atingisse seus objetivos. Foram realizadas mais de 90 prisões. A mais importante teria sido a de Gaetano Lo Presti, sujeito que, segundo as Autoridades Italianas, estava à frente desta empresa. Lo Presti foi encontrado enforcado em sua cela. Segundo as versões oficiais, teria se suicidado. A imprensa internacional, com interesse, noticia tal fato. Contudo, sem explicitar as razões do fenômeno inominado "Mafia", tão presente em nossos cotidianos. Muito mais do imaginamos. A organização mafiosa teve início na Itália do Século XIX, enquanto o País verdadeiramente tentava se organizar politicamente. Vigorava, no interior italiano, especialmente no seu Centro-Sul, menos desenvolvido, o modelo latifundiário, com a concentração de terras nas mãos de poucas famílias. Com as constantes confusões geradas, naturalmente, por um "quase-forçado" processo de unificação e geração de um governo central único, era comum a ocorrência de saques e roubos de gados e pertences dos latifundiários. Criaram-se, à época, os genes do que hoje compreendemos como máfia. Grupos armados foram formados muitas vezes pelos próprios latifundiários para protegê-los dos saqueadores. E cada grupo destes recebia por seus trabalhos, muitas vezes em pequenas parcelas de terras pertencentes a estes latifundiários. Com a evolução do próprio contexto social italiano, muitos destes meros "prestadores de serviços", tornaram-se proprietários rurais ou comerciantes nos Centros Urbanos mais próximos. Perceberam, então, que poderiam "dominar" aquelas localidades, assim como dominavam a questão da segurança. Uniram-se e passaram a cobrar, também, pela segurança prestadas aos comerciantes. Nasciam, assim, as primeiras organizações mafiosas. Contudo, possuindo terras e pontos importantes de comércio, os mafiosos tiveram a percepção de que já não eram apenas mais um grupo armado: transformaram-se em verdadeiras empresas. De maneira extremamente hábil, organizaram-se e "profissionalizaram" a sua atuação. Dividiram-se em grupos, "famiglias", que deveriam respeitar um determinado ramo e território de atuação, jamais podendo invadir os indicados às outras "famiglias". Perceberam que seria relevante participar das atividades estatais, pois somente assim influenciariam na tomada de decisões estratégicas, tão importantes para a manutenção das "famiglias". Um fenômeno que iniciou-se de maneira concentrada, na Região da Sicilia, tomava conta de outros pontos da Penísula Itálica a esta época. Formatou-se, assim, a "Cosa Nostra", que, em verdade, não se trata da "máfia siciliana", como afirmam hoje alguns jornais e jornalistas; trata-se, sim, da entidade máxima da Máfia Italiana, denominada "Honrada Sociedade da Cosa Nostra", sob a qual atuam as "famiglias" 'Ndrangueta, na região da Calabria e de Reggio di Calabria; a Camorra, na Campãnia e Napóles; e a Sacra Corona Unita, em Puglia e Bari. O objetivo máximo das organizações criminosas é desrespeitar as normas, as leis. Esse comportamento é típico da Região mais ao Sul da Itália. Alguns sociólogos até hoje afirmam que se trata de um fenômeno comportamental que teria, certamente, gerado a aceitação às ações mafiosas. O fato é que todas as organizações mafiosas querem atingir uma única vítima: o próprio Estado. É comum a todos os mafiosos a rejeição ao Estado. Para os mafiosos, é improvável que uma mesma teia legislativa possa servir a todos os indivíduos. Atualmente, para "fortalecer-se" nessa sua "luta" em face do Estado, a Mafia atua na proteção, em diversas atividades estatais, com a influência sobre o funcionalismo, no contrabando, na pistolagem ou, modernamente, "permuta de assassinatos" e no tráfego de drogas e de pessoas. Atuando em tantos ramos da atividade humana, fica fácil compreender porque muitas instituições financeiras e políticas internacionais são, de fato, controladas pelos mafiosos. A Mafia não é um fenômeno somente italiano, existindo na Rússia, na China, na Colômbia e em tantos outros Países organizações similares e que, em verdade, são associadas à "Cosa Nostra". Segundo informações da Interpol, "famiglias" são mantidas pela "Cosa Nostra" na Alemanha, Bélgica, França, Espanha, Grã-Bretanha e Brasil. Sempre com uma única justificativa: manter a luta em face do Estado ativa e fortalecida, dominando os pontos globais de interesse para a organização. Não estou, aqui, exaltando ou criticando as entidades ou organizações mafiosas. Apenas as analisando. Deixo a critério de cada um dos leitores deste texto o julgamento mais adequado aos fatos. O que não podemos ignorar, no entanto, é que desde o Século XIX, quando criadas, são as "famiglias" as únicas entidades sociais que possuem força para enfrentar o status quo ante, o stabilishment. Paradoxalmente, é a "Cosa Nostra" tremendamente organizada, exigindo de seus membros o cumprimento rígido de um "código de honra", onde prevalecem dogmas como jamais tocar nas mulheres de outros mafiosos, não patrocinar a exploração da prostituição, agir séria e corretamente no ambiente social, guardar sigilo absoluto sobre a instituição, jamais apresentar-se sozinho a outro mafioso (para análise, pelas partes, das parceirias), dentre outros. O batismo de sangue dos mafiosos realmente existe, onde o dedo indicador da mão utilizada para atirar é perfurado em sua ponta, fazendo com que jorre o sangue que encharcará uma imagem santa, em seguida incendiada. Tudo para lembrar a "rigidez moral" da organização e para que os iniciados se lembrem que se romperem o seu juramento, também serão incendiados. A mensagem é clara. Em suma, é a Máfia uma entidade que possui uma latente dificuldade de se submeter às Leis, adotando uma postura quase-Anarquista. É odioso o envolvimento moderno das práticas mafiosas no tráfico internacional de drogas e pessoas. Mas a Máfia não é só isso. É muito mais, controlando o jogo, o setor hoteleiro internacional e boa parte do sistema financeiro global. Resta a nós, reles mortais, analisar de que lado queremos ficar. E nessa eleição, deveríamos levar em conta que modelo de sociedade desejamos compor.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Será possível ser feliz e "normal" vivendo em uma Metrópole?

Sou paulistano. Nascido, portanto, na Capital do Estado de São Paulo, cidade homônima. Nasci em 1975, durante o auge (se é que existiu) da Ditadura Militar, instalada em 1964. Obviamente não me recordo, mas contam-me que a cidade, naquela época, era "quase" incrível. Encontrava-se em um processo de modernização, com recentes inaugurações de obras viárias importantes que estavam "revolucionando" o modo de viver, bem como alargando as fronteiras urbanas de São Paulo. As edificações "modernas", os prédios de apartamentos, pipocavam. Construia-se, também, a primeira linha de Metrô, que revolucionaria os transportes coletivos País afora. São Paulo, à época, consolidava a sua imagem de "locomotiva do País". E o crescimento da Capital provocava o mesmo nas cidades mais próximas, as que compõem, até hoje, a denominada "Grande São Paulo". Enfim, viver em São Paulo àquela época deveria ser, comparativamente aos nossos dias, melhor. A Cidade, concentrando recursos e investimentos em infra-estrutura, possuía pouco mais de 1/3 (!?) da sua população atual. Ou seja: em pouco mais de 3 décadas, a população da nossa cidade quase triplicou! E quais grandes investimentos em infra-estrutura foram realizados nesse período para preparar a nossa cidade à atual realidade demográfica? Nenhum. Todas as obras que foram realizadas pelo Poder Público ao longo deste período simplesmente objetivaram adaptar à cidade ao seu vertiginoso crescimento. A rede de esgotos e águas fluviais apenas "cresceu", não se modernizou. A rede elétrica, idem, possuindo o agravante de que apenas pouquíssimos espaços não possuem os famigerados postes... O serviço de coletas de dejetos e lixo permanece a funcionar de acordo com o mesmo plano de ação de 40 anos atrás, através de aterros sanitários que não agregam nada (já existem instalados mundo afora diversas "usinas" de produção de energia elétrica através da decomposição do lixo). As vias de circulação de veículos cresceram pouquíssimo, para um número centenas de vezes maior de veículos emplacados e circulando. Nossa cidade foi, digamos, "abandonada" ao longo dos últimos 30 anos, perdendo, em muito, a sua qualidade de vida, a sua principal característica. Em decorrência desta forma de administração "peculiar", diríamos, verificamos o crescimento das enchentes, dos alagamentos, do processo de favelização, do crescimento da ocupação não-planejada dos espaços urbanos. Hoje, qualquer urbanista, mesmo um recém-formado e sem experiência, atesta: a cidade de São Paulo cresceu, tornando-se uma caótica metrópole. Vivemos, portanto, em meio ao caos. Uma beleza! Será que, se nos fosse permitido escolher, elegeríamos "essa" cidade de São Paulo para viver? Quem nasceu no Interior, seja de SP, seja do País, e vive em São Paulo não deve estar entendendo o escopo deste texto. Sim, é difícil para quem "mais recentemente" foi apresentado à São Paulo acreditar que muitas pessoas escolheriam outras formas de vida, com maior qualidade. Da mesma forma é difícil para os "agitadinhos" acreditar que alguém em sã consciência poderia optar por outra cidade senão São Paulo. para viver. Mas, senhores e senhoras, pasmem: o número de pessoas insatisfeitas com o modo de vida proporcionado por São Paulo cresce, a olhos vistos. Na tentativa de dirimir ou "escamotear" os graves defeitos estruturais de nossa cidade, muitos dizem que não há cidade igual a São Paulo em termos de serviços. Outros afirmam que São Paulo é a "cidade que nunca dorme". Mas, convenhamos: quem precisa assim de tanta oferta de serviços? E desde quando dormir, mesmo que seja pouco, tornou-se um hábito ruim e pouco saudável? Essa "neurose" acabou por tomar conta da maioria das pessoas que aqui vivem. Elas anseiam ser a melhor em algo, assim como São Paulo parece ser. Anseiam não dormir nunca, assim como São Paulo parece fazer. Todavia, basta analisarmos a realidade de nossa Cidade para perceber que ela até pode, de fato, possuir essas "qualidades", mas está doente. E de uma doença fatal. Da mesma maneira que as pessoas que aqui vivem e que se deixam "contaminar" pelo "SP way of life": todas fatigadas, estressadas. E estress, meus caros, mata. Pode não parecer, mas mata. Daí a pergunta que é título do texto de hoje: "Será possível ser feliz e 'normal' em uma Metrópole?". Para muitas pessoas, uma quantidade realmente grande de gente, felicidade de espírito não guarda qualquer relação com calma. Este grupo, "dependente do caos", precisa da bagunça, do trânsito, da poluição atmosférica, visual e sonora típica dos grandes centros urbanos. Seus membros precisam, quase que biologicamente, desta bagunça toda para se sentirem realizados, vivos. Eu invejo essa gente, confesso. Por que não consigo ver beleza alguma em permanecer quase que 1/3 das horas que passo acordado preso no trânsito, por exemplo. Também não vejo beleza alguma naqueles nojentos Rios Tietê e Pinheiros, verdadeiros pinicos ao céu aberto. Também não curto andar pelas ruas e sentir o fedor das calçadas, esbarrando em gente que brotoa sabe-se lá de onde. O único momento de felicidade que tenho ao viver em São Paulo é quando me dou conta de que a franca miscigenação e convivência entre as mais variadas raças é plenamente factível. São Paulo é formada por uma mistura de tudo com todos. E isso, sim, me agrada. Pois nada é tão repugnante do que o preconceito, em qualquer de suas formas. Contudo, lanço um desafio a vocês, meus amigos e amigas leitores: quem, ao viajar, jamais conheceu um outro lugar que não São Paulo e chamou-o de "mágico"? Isso se deu, meus caros, em razão do desagrado que São Paulo, em algum ponto, lhes causou ou ainda causa. Em minha opinião, até seria possível sermos felizes em Metrópoles. Mas esse modelo de concentração de tudo em um único local a quem interessa? Será que nosso Estado e, consequentemente, nosso País, não atingiria outro patamar de desenvolvimento se tivéssemos, por essas bandas, ao invés de uma São Paulo, outras 50 "menores São Paulo", espalhadas em suas cinco regiões? Não estou me referindo à cidades nanicas. Me refiro à outras 50 São Paulo de, no máximo, 500 mil habitantes. Me refiro, portanto, a 50 outras Ribeirão Preto espalhadas pelo País. Seria péssimo, não é mesmo?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

As impressões que tenho de você, Vida...

Fui apresentado a você, de maneira rasa e superficial, logo que nasci. Já sabia, antes, sobre a sua existência, pois a sentia. Contudo, como me encontrava em um aperto úmido, não era possível ter a melhor das impressões sobre você. Pensava: "Se isto é vida, estou ferrado!".

Nasci e você se fez presente na dor angustiante que senti, naquele exato instante, em meus pulmões. Uma dor infernal! Ao abrir meus olhos, fui cegado pela intensidade das luzes artificiais que iluminavam aquele local. Pensei: "Se isto é vida, estou lascado!" Chorei.

Após aquele ato solene do nascimento, fui, paulatina e gradualmente, apresentando-me a você. Ou foi ao contrário? Não tenho certeza. Mas estou certo que, nesse caso, a ordem dos fatores realmente não altera o produto...

Enfim, fui crescendo e você, Vida, foi deixando de ser uma desconhecida para tornar-se uma presença. Você nunca deixou de se apresentar a mim... A cada vitória, a cada perda, a cada vida nova que surgia, a cada desaparecimento. Ensinando-me, em cada uma destas ocasiões, as sensações de alegria, de tristeza, do beijo, do amor, do espanto. A cada nova situação vivida, uma nova emoção você me apresentou.

Por tantas vezes tentei te dasafiar, por não concordar com o seu didatismo. E por quantas vezes fui vencido por você? Em todas!

Foi você quem me ensinou, e que permanece me ensinando, o valor da palavra. Assim como o fato de que muitas palavras não expressam valor algum.

Você ainda tem uma longa jornada pela frente, Vida, pois rogo que a nossa convivência ainda perdure por muito tempo. Mas nesta etapa da minha vida, a impressão que já formei é que você é pura magia!

Você, Vida, é maga, bruxa, mágica, misteriosa, deliciosa, delirante, abundante, vigorosa, enebriante, corajosa, extenuante e revigorante ao mesmo tempo!

Espero que no "final", quando finalmente nos encararmos, possa identificar a sua verdadeira face e bradar: "Muito, muito obrigado!"


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sabedoria

Muitas pessoas buscam, durante a longa jornada de suas vidas, acumular o maior volume possível de conhecimento. Lêem sobre quase tudo, absorvendo todo e qualquer tipo ou espécie de conhecimento. Propositalmente, sequer filtram essas informações. Em suas verdades, acreditam piamente que sabedoria guarda relação com conhecimento. Crêem que as pessoas consideradas "sábias" assim o são em razão do acúmulo de informações, o que, em tese, as prepararia para qualquer situação imposta pela Vida. Modesta e humildemente, creio que uma coisa não guarda qualquer relação com a outra. Já conheci pessoas que cursaram as melhores Universidades, concluíram seus estudos de Pós-Graduação, tornando-se até Doutores, que falam três ou quatro línguas , mas que não possuem um único fio de cabelo de sabedoria. Assim como conheci gente matuta, aqueles tipos do interior, de chinelo nos pés e chapeú de "páia" na cabeça, que são tão sábias que se parecem muito mais Doutores do que os próprios Doutores. Ao conversar com o "Doutor" e ao "prosear" com o matuto, a diferença entra ambos ficava latente. O primeiro achava que sabia tudo, absolutamente tudo. Especialmente sobre a carreira que havia abraçado. Já o segundo, por sua vez, analisava tudo e a todos para, então, tecer algum tipo de comentário sobre algum questionamento de minha parte. E sempre terminava as suas colocações saudando ou a Deus, ou à Natureza, como verdadeiros "senhores da sabedoria". O primeiro sequer possuía alguma religiosidade ou misticidade. Como explicar tal ilogicidade? O mistério do que vem a ser sabedoria não é nada moderno. Platão já tentava definir sabedoria através da seguinte afirmação: "A sabedoria consiste em ordenar bem a nossa própria alma". Para o mestre grego, portanto, a sabedoria real adviria da organização de nossos anseios, nossos desejos, do auto-conhecimento, não do conhecimento sobre qualquer coisa externa. Primeiro, para Platão, deveríamos nos conhecer para, somente após, buscarmos conhecer os outros e o Mundo ao nosso redor. Galileu Galilei, já mais proximamente, definia que "A maior sabedoria que existe é conhecer a si mesmo", tentando explicitar as palavras de Platão. Particularmente, creio que o auto-conhecimento é a ciência das ciências. Talvez seja muito mais doloroso, penoso, auto-conhecermo-nos do que apreender conceitos de Física, Química e Matemática. É muito difícil depararmo-nos, durante o processo de auto-conhecimento, com os "monstros" que existem dentro de nós! Eu iniciei, motivado por uma determinada pessoa, esse processo de auto-conhecimento há poucos meses. É, assim, uma obra apenas iniciada e sem prazo para terminar. Confesso, sem qualquer receio, que em determinados dias fica muito complicado e doloroso, fisicamente, tratar de questões internas, que habitam o âmago da minha alma. Mas ao expô-las, a sensação seguinte é de clareza, leveza e resignação. Somos criados e educados para sermos "perfeitos". Portanto, admitir que não somos e que existem, dentro de nós, diversos "nós", não é tarefa fácil. Somos todos, intrinsicamente, santos e putos; honestos e desonestos; amigos e inimigos; leais e desleais; bondosos e malígnos, feios e belos. Enfim, somos humanos, contraditórios. E agir como seres humanos, não como "seres perfeitos" é, ao meu sentir, a única e verdadeira sabedoria. Até porque, segundo Diderot, "A sabedoria não é outra coisa senão a ciência da felicidade". Sejamos, então, felizes, reconhecendo quem somos, por que somos e para que assim fomos concebidos! A felicidade decorrente desta ausência de pressão para sermos perfeitos é, sim, sabedoria!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Dignidade

O que, em verdade, significa o termo? Segundo a maioria dos bons dicionários da Língua Portuguesa, dignidade seria "a qualidade de quem ou daquilo que é digno; respeitabilidade; nobreza; elevação dos sentimentos; purdonor; seriedade; honraria; título; posto eminente de cargo elevado; autoridade moral."

Como se percebe, trata-se de um termo complexo, que encarta, em si, outros termos que mereceriam também definição. Definir o que é dignidade, portanto, vem a ser tão ou mais difícil do que agir condignamente.

Dentre todos os termos que visam determinar o que seja "dignidade", destaco dois: nobreza e autoridade moral. A mim, especialmente, agir com dignidade significa atuar com nobreza. E agir com nobreza não é, deveras, uma tarefa das mais fáceis. Elevar seus pensamentos, seu espírito, suas atitudes, perdoar. Poucos são capazes te tais atos e essa é a verdadeira autoridade moral.

A autoridade moral que costumo respeitar, portanto, não é aquela típica dos "senhores da razão". Esses, aliás, procuro evitar, repulsar, pois os que se acham sabedores de tudo e sobre todos são, em verdade, imbecis completos. A vida é, naturalmente, uma ferrenha e contumaz Mestra, nos ensinando a viver a cada dia. Como pode alguém, ainda no curso da vida, sem esgotá-la, achar-se conhecedor de tudo, "senhor da razão"? A esses imbecis deveria ser impingida uma drástica pena, tal qual VIVER. É; viver. Deve ser sobremaneira doloroso a uma pessoa com este perfil viver e aprender, a cada dia, um fato novo quando se achava sabedor de tudo...

Por mais que tentemos, acredito que nobreza, por seu turno, não se explica. É sentida, percebida. Tive a fortuna de conhecer, até hoje, muitas pessoas nobres. Nenhuma delas é nobre em razão de algum título, tampouco pelo que possuem. São natural e espontaneamente nobres. Erram e reconhecem seus equívocos. Perdoam a si mesmos e aos outros com certa facilidade, fluidez. Adoram a dádiva de viver e aproveitam tal com uma saudável e cativante intensidade. Não precisam de bebidas, drogas ou outros alucinógenos para compreenderem como é maravilhoso o presente divino da vida. Se bebem, se drogam ou alucinam, o fazem por que querem, e não por querer transformar a vida em algo ilusório e inatingível!

Essas nobres pessoas que conheci, sem excessões, são e serão, sempre, dignas.

A busca pela mínima dignidade demanda de um fato: não se esqueça, jamais, que a máxima dignidade advém do respeito. Aprender a respeitar, a tudo e a todos, é buscar a dignidada.

Não sou digno, certamente, ao ponto de poder ensinar alguma coisa a quem quer que seja. Mas sou suficientemente digno para lhes rougar: não se esqueçam de suas Histórias de vida. Respeitem-nas. Agindo assim, estaremos cada vez mais próximos dos dignos e dos nobres.







segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O cara (versão 2008)

Sabe aquelas pessoas que estranha e naturalmente chamam a atenção? Tenho certeza que você já se deparou com alguém assim. E tenho certeza que quando foi, por curiosidade, pesquisar quem seria aquela pessoa, se deparou com histórias incríveis, sejam familiares, sejam profissionais.

Estas pessoas possuem um magnetismo típico, que não está disponível a todos nós. A nós não é permitido adquiri-lo nas prateleiras dos Supermercados. São pessoas iluminadas, daquelas que chegam chegando: uma festa repleta de gente pode até estar ótima, alegre; mas quando um destes seres adentra no ambiente, todos são magicamente compelidos a reparar naquela aparição.

Uma vez, tive a sorte de conhecer alguém assim. Era incrível e ilógico o magnetismo, a atração que essa referia pessoa produzia e exalava por todos os póros. Você poderia estar sozinho ou rodeado de gente bonita e interessante. Mas sempre era compelido a buscar aquela pessoa no meio da multidão. Eu observava, viciadamente, o gestual, a sua figura. Não eram, realmente, os elementos exteriores que o transformassem naquele ser tão entusiasmante.

Definitivamente eram os seus predicados inatos que conferiam àquela figura um ar de "diferenciamento". Todos, absolutamente todos, queriam estar perto dele, como se precisassem de sua presença. E como precisavam! Fisicamente, essa pessoa não era diferente de quase-ninguém. Um brasileiro típico, fruto da miscigenação de raças. Percebia nele caracteres de índios, portugueses, espanhóis, negros. Não era alto. Mas tornave-se um gigante em meio à multidão. Eu, um reles mortal, ficava estupefato com tamanha capacidade. Era, o tal, um sujeito realmente interessante.

Fiquei, confesso, até com certa inveja. É, inveja. Explico: o local onde habitualmente encontrava-me com o tal "cara" era frequentado, especialmente às quintas-feiras, por mulheres resplandecentes. Verdadeiras beldades do sexo feminino, de todas as raças, tamanhos, formas, credos e cores frequentavam aquela localidade. Mas ninguém, homem ou mulher, conseguia fazer frente à atração despertada pelo "cara". Já quis, em determinada fase da minha "carreira", ser tão requisitado quanto o "cara" pelo sexo feminino... era um tal de acenos, gracejos, risadinhas... inveja.

Naquela data, estávamos eu e o meu bom amigo Careca, sentados em um canto obscuro do local a observar o "cara". Estava tendente, até, a escrever uma tese-livre de sociologia/antropologia sobre o tal sujeito. Era incrível como ele, naturalmente, atraía os olhares e atenções das pessoas que ali se encontravam. Nem mesmo se estivesse pelado conseguiria fazer frente ao tal "cara"!

De repente, não mais que de repente, o "cara" direcionou o seu olhar para a nossa mesa. Por alguns segundos, congelei. Não era possível que eu, um simples e reles ser humano, houvesse chamado a atenção do "cara". E o Careca, então... bom, ele é careca. Mas estava, de fato, ocorrendo algo diferente, pois o tal "cara" iniciou, com seu andar firme e decidido, uma trajetória em linha reta, direta, à nossa mesa. Ele poderia ter optado por serpentear, florear o seu caminho Mas não: somente o "cara" teria tanta corajem moral para escolher a linha reta como sua trilha, a mais curta!

Era, realmente, o "cara" se aproximando de nós dois! Ao se aproximar de nossa mesa, de inopino, ele nos questionou: "Posso servir mais uma gelada aos senhores?". Com os olhos arregalados pela surpresa e após um sinal de positivo extremamente sincronizado, em razão da tensão, observei-o despejar em uma tulipa extremamente gelada (tão gelada que poderia fazer um pedaço de minha pele ali grudar), aquele líqüido amarelo-ouro, extraído de uma alquimia realizada a partir da cevada e do lúpulo, com uma espuma densamente alva e dona de uma cremosidade ímpar, dizendo ao Grande Careca: "É meu amigo... esse é, realmente, o 'cara'!"