terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Será possível ser feliz e "normal" vivendo em uma Metrópole?

Sou paulistano. Nascido, portanto, na Capital do Estado de São Paulo, cidade homônima. Nasci em 1975, durante o auge (se é que existiu) da Ditadura Militar, instalada em 1964. Obviamente não me recordo, mas contam-me que a cidade, naquela época, era "quase" incrível. Encontrava-se em um processo de modernização, com recentes inaugurações de obras viárias importantes que estavam "revolucionando" o modo de viver, bem como alargando as fronteiras urbanas de São Paulo. As edificações "modernas", os prédios de apartamentos, pipocavam. Construia-se, também, a primeira linha de Metrô, que revolucionaria os transportes coletivos País afora. São Paulo, à época, consolidava a sua imagem de "locomotiva do País". E o crescimento da Capital provocava o mesmo nas cidades mais próximas, as que compõem, até hoje, a denominada "Grande São Paulo". Enfim, viver em São Paulo àquela época deveria ser, comparativamente aos nossos dias, melhor. A Cidade, concentrando recursos e investimentos em infra-estrutura, possuía pouco mais de 1/3 (!?) da sua população atual. Ou seja: em pouco mais de 3 décadas, a população da nossa cidade quase triplicou! E quais grandes investimentos em infra-estrutura foram realizados nesse período para preparar a nossa cidade à atual realidade demográfica? Nenhum. Todas as obras que foram realizadas pelo Poder Público ao longo deste período simplesmente objetivaram adaptar à cidade ao seu vertiginoso crescimento. A rede de esgotos e águas fluviais apenas "cresceu", não se modernizou. A rede elétrica, idem, possuindo o agravante de que apenas pouquíssimos espaços não possuem os famigerados postes... O serviço de coletas de dejetos e lixo permanece a funcionar de acordo com o mesmo plano de ação de 40 anos atrás, através de aterros sanitários que não agregam nada (já existem instalados mundo afora diversas "usinas" de produção de energia elétrica através da decomposição do lixo). As vias de circulação de veículos cresceram pouquíssimo, para um número centenas de vezes maior de veículos emplacados e circulando. Nossa cidade foi, digamos, "abandonada" ao longo dos últimos 30 anos, perdendo, em muito, a sua qualidade de vida, a sua principal característica. Em decorrência desta forma de administração "peculiar", diríamos, verificamos o crescimento das enchentes, dos alagamentos, do processo de favelização, do crescimento da ocupação não-planejada dos espaços urbanos. Hoje, qualquer urbanista, mesmo um recém-formado e sem experiência, atesta: a cidade de São Paulo cresceu, tornando-se uma caótica metrópole. Vivemos, portanto, em meio ao caos. Uma beleza! Será que, se nos fosse permitido escolher, elegeríamos "essa" cidade de São Paulo para viver? Quem nasceu no Interior, seja de SP, seja do País, e vive em São Paulo não deve estar entendendo o escopo deste texto. Sim, é difícil para quem "mais recentemente" foi apresentado à São Paulo acreditar que muitas pessoas escolheriam outras formas de vida, com maior qualidade. Da mesma forma é difícil para os "agitadinhos" acreditar que alguém em sã consciência poderia optar por outra cidade senão São Paulo. para viver. Mas, senhores e senhoras, pasmem: o número de pessoas insatisfeitas com o modo de vida proporcionado por São Paulo cresce, a olhos vistos. Na tentativa de dirimir ou "escamotear" os graves defeitos estruturais de nossa cidade, muitos dizem que não há cidade igual a São Paulo em termos de serviços. Outros afirmam que São Paulo é a "cidade que nunca dorme". Mas, convenhamos: quem precisa assim de tanta oferta de serviços? E desde quando dormir, mesmo que seja pouco, tornou-se um hábito ruim e pouco saudável? Essa "neurose" acabou por tomar conta da maioria das pessoas que aqui vivem. Elas anseiam ser a melhor em algo, assim como São Paulo parece ser. Anseiam não dormir nunca, assim como São Paulo parece fazer. Todavia, basta analisarmos a realidade de nossa Cidade para perceber que ela até pode, de fato, possuir essas "qualidades", mas está doente. E de uma doença fatal. Da mesma maneira que as pessoas que aqui vivem e que se deixam "contaminar" pelo "SP way of life": todas fatigadas, estressadas. E estress, meus caros, mata. Pode não parecer, mas mata. Daí a pergunta que é título do texto de hoje: "Será possível ser feliz e 'normal' em uma Metrópole?". Para muitas pessoas, uma quantidade realmente grande de gente, felicidade de espírito não guarda qualquer relação com calma. Este grupo, "dependente do caos", precisa da bagunça, do trânsito, da poluição atmosférica, visual e sonora típica dos grandes centros urbanos. Seus membros precisam, quase que biologicamente, desta bagunça toda para se sentirem realizados, vivos. Eu invejo essa gente, confesso. Por que não consigo ver beleza alguma em permanecer quase que 1/3 das horas que passo acordado preso no trânsito, por exemplo. Também não vejo beleza alguma naqueles nojentos Rios Tietê e Pinheiros, verdadeiros pinicos ao céu aberto. Também não curto andar pelas ruas e sentir o fedor das calçadas, esbarrando em gente que brotoa sabe-se lá de onde. O único momento de felicidade que tenho ao viver em São Paulo é quando me dou conta de que a franca miscigenação e convivência entre as mais variadas raças é plenamente factível. São Paulo é formada por uma mistura de tudo com todos. E isso, sim, me agrada. Pois nada é tão repugnante do que o preconceito, em qualquer de suas formas. Contudo, lanço um desafio a vocês, meus amigos e amigas leitores: quem, ao viajar, jamais conheceu um outro lugar que não São Paulo e chamou-o de "mágico"? Isso se deu, meus caros, em razão do desagrado que São Paulo, em algum ponto, lhes causou ou ainda causa. Em minha opinião, até seria possível sermos felizes em Metrópoles. Mas esse modelo de concentração de tudo em um único local a quem interessa? Será que nosso Estado e, consequentemente, nosso País, não atingiria outro patamar de desenvolvimento se tivéssemos, por essas bandas, ao invés de uma São Paulo, outras 50 "menores São Paulo", espalhadas em suas cinco regiões? Não estou me referindo à cidades nanicas. Me refiro à outras 50 São Paulo de, no máximo, 500 mil habitantes. Me refiro, portanto, a 50 outras Ribeirão Preto espalhadas pelo País. Seria péssimo, não é mesmo?

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