terça-feira, 18 de novembro de 2008

A Cúpula da ONU.

Amanhã, dia 19 de novembro de 2008, a Organização das Nações Unidas - ONU promoverá um evento em sua sede, em Zurique, Suíça, que está repercutindo mundo afora. Após mais de um ano de obras, será apresentada uma aplicação artística realizada sobre a Cúpula de uma das salas de reunião do prédio-sede da Organização. A arte, do pintor espanhol Miquel Barceló, será oficialmente descerrada na ocasião. Estarão presentes Chefes-de-Estado de todo o Planeta. Mas a polêmica, por óbvio, não está neste fato, mas, sim, no expressivo custo dos trabalhos, mais de US$ 30 milhões. A polêmica ocorre porque a ONU é a mais expressiva organização internacional do Planeta. Todos os Países civilizados a compõem e lutam, como atualmente faz o Brasil, por um assento permanente em seu Conselho de Segurança. E suas ações, sejam de natureza civi-assistencialista, sejam as belicosas, custam centenas de milhares de dólares a cada um dos seus Países-Membros por ano. Nada obstante, a polêmica também reside no fato de que muitos críticos consideram injustificável um gasto de tal monta exatamente no instante da mais grave crise econômica em um Século. O custo total da obra do pintor espanhol Barceló, que já foi comparado, por sua genialidade, a Miró, outro mestre espanhol, foi custeado pelo Governo Espanhol e por empresas daquele País. E a obra em si é tão grandiosa que está sendo apelidada pela imprensa européia como a "Capela Sistina da ONU". Os críticos atestam que não seria cabível que o Governo da Espanha desfrutasse de tal montante em uma obra de arte em um momento de arrocho econômico, onde quase 5 mil postos de empregos são vagos ao dia. Outra crítica apresentada é que foi concedida ao artista espanhol uma liberdade sem tamanho, espelhada em algumas excentricidades, como a contratação de um motorista particular e a contratação de um chef de cozinha espanhol para atendê-lo especialmente. Tudo isso embutido, logicamente, no custo total da obra. Para alimentar ainda mais tal polêmica, tanto o artista espanhol, quanto o Governo daquele País, se recusam a tornar público a parte do montante que diretamente lhe coube. Tirante todos esses elementos, creio que seja importante analisarmos, com clareza, a seguinte questão: qual o preço da Arte? Escrevo de maneira proposital a palavra "Arte" com a sua letra inicial em maiúsculo, eis que me refiro não à obra do espanhol Barceló (sem querer desqualificá-la) mas, sim, à Arte em geral, como expressão das habilidades, angústias, qualidades e caracteres da Humanidade. Se existe um elemento que distingue o ser humano de todos os outros seres animados que habitam a Terra é a sua capacidade de produção artística. Somente o Homem é capaz de expressar suas vontades e seus sentimentos através da Arte. Para o Governo espanhol, criticado pela pujança, a "Arte não tem preço". Mas será mesmo? Fosse assim, não deveríamos ter criado um modelo "capitalista" de gestão dos talentos artísticos. Atualmente, qualificamos pintores, escultores, cantores, compositores, dançarinos, cineastas e quaisquer outros artistas nem tanto pelos seus talentos, mas sim pela lucratividade auferida sobre suas obras. Um dado pintor é "melhor" que outro em razão do valor de mercado de suas telas. Um cantor é "melhor" que outro em razão do volume de CDs e DVDs comercializados. Um grupo de dança é "melhor" do que outros em razão do sucesso de bilheteria de seus espetáculos. E por aí afora, em todos os espectros artísticos. Desse modo, a Arte, atualmente, tem, sim, preço. Não compartilho, de forma alguma, com as críticas oportunistas que estão sendo forjadas em face da obra do espanhol Barceló que será amanhã inaugurada. Basta lembrar, para destruí-las, que se trata de um trabalho que se iniciou há mais de um ano, instante onde nenhum dos "gênios da Economia" atual previa o atual momento recessivo. Mas critico, sim , o fato de uma dada aplicação sobre o teto de uma das salas de reunião da ONU ter custado mais de US$ 30 milhões. Mesmo que se tratasse de uma aplicação de altíssimo custo, utilizando materiais nobilíssimos, ou de altíssima tecnologia, nada justifica, ao meu ver, um valor desta dimensão. Creio que a Cúpula da ONU seja, a partir de amanhã, a mais cara do Globo. Tomara que as cabeças que se reúnam sobre ela também sejam caras à nós, seres humanos, fazendo da ONU exatamente o que esperamos e decidindo por um futuro, próximo, bem mais próspero, igualitário e humanista.

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