segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O cara (versão 2008)

Sabe aquelas pessoas que estranha e naturalmente chamam a atenção? Tenho certeza que você já se deparou com alguém assim. E tenho certeza que quando foi, por curiosidade, pesquisar quem seria aquela pessoa, se deparou com histórias incríveis, sejam familiares, sejam profissionais.

Estas pessoas possuem um magnetismo típico, que não está disponível a todos nós. A nós não é permitido adquiri-lo nas prateleiras dos Supermercados. São pessoas iluminadas, daquelas que chegam chegando: uma festa repleta de gente pode até estar ótima, alegre; mas quando um destes seres adentra no ambiente, todos são magicamente compelidos a reparar naquela aparição.

Uma vez, tive a sorte de conhecer alguém assim. Era incrível e ilógico o magnetismo, a atração que essa referia pessoa produzia e exalava por todos os póros. Você poderia estar sozinho ou rodeado de gente bonita e interessante. Mas sempre era compelido a buscar aquela pessoa no meio da multidão. Eu observava, viciadamente, o gestual, a sua figura. Não eram, realmente, os elementos exteriores que o transformassem naquele ser tão entusiasmante.

Definitivamente eram os seus predicados inatos que conferiam àquela figura um ar de "diferenciamento". Todos, absolutamente todos, queriam estar perto dele, como se precisassem de sua presença. E como precisavam! Fisicamente, essa pessoa não era diferente de quase-ninguém. Um brasileiro típico, fruto da miscigenação de raças. Percebia nele caracteres de índios, portugueses, espanhóis, negros. Não era alto. Mas tornave-se um gigante em meio à multidão. Eu, um reles mortal, ficava estupefato com tamanha capacidade. Era, o tal, um sujeito realmente interessante.

Fiquei, confesso, até com certa inveja. É, inveja. Explico: o local onde habitualmente encontrava-me com o tal "cara" era frequentado, especialmente às quintas-feiras, por mulheres resplandecentes. Verdadeiras beldades do sexo feminino, de todas as raças, tamanhos, formas, credos e cores frequentavam aquela localidade. Mas ninguém, homem ou mulher, conseguia fazer frente à atração despertada pelo "cara". Já quis, em determinada fase da minha "carreira", ser tão requisitado quanto o "cara" pelo sexo feminino... era um tal de acenos, gracejos, risadinhas... inveja.

Naquela data, estávamos eu e o meu bom amigo Careca, sentados em um canto obscuro do local a observar o "cara". Estava tendente, até, a escrever uma tese-livre de sociologia/antropologia sobre o tal sujeito. Era incrível como ele, naturalmente, atraía os olhares e atenções das pessoas que ali se encontravam. Nem mesmo se estivesse pelado conseguiria fazer frente ao tal "cara"!

De repente, não mais que de repente, o "cara" direcionou o seu olhar para a nossa mesa. Por alguns segundos, congelei. Não era possível que eu, um simples e reles ser humano, houvesse chamado a atenção do "cara". E o Careca, então... bom, ele é careca. Mas estava, de fato, ocorrendo algo diferente, pois o tal "cara" iniciou, com seu andar firme e decidido, uma trajetória em linha reta, direta, à nossa mesa. Ele poderia ter optado por serpentear, florear o seu caminho Mas não: somente o "cara" teria tanta corajem moral para escolher a linha reta como sua trilha, a mais curta!

Era, realmente, o "cara" se aproximando de nós dois! Ao se aproximar de nossa mesa, de inopino, ele nos questionou: "Posso servir mais uma gelada aos senhores?". Com os olhos arregalados pela surpresa e após um sinal de positivo extremamente sincronizado, em razão da tensão, observei-o despejar em uma tulipa extremamente gelada (tão gelada que poderia fazer um pedaço de minha pele ali grudar), aquele líqüido amarelo-ouro, extraído de uma alquimia realizada a partir da cevada e do lúpulo, com uma espuma densamente alva e dona de uma cremosidade ímpar, dizendo ao Grande Careca: "É meu amigo... esse é, realmente, o 'cara'!"

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