Muitas pessoas buscam, durante a longa jornada de suas vidas, acumular o maior volume possível de conhecimento. Lêem sobre quase tudo, absorvendo todo e qualquer tipo ou espécie de conhecimento. Propositalmente, sequer filtram essas informações. Em suas verdades, acreditam piamente que sabedoria guarda relação com conhecimento. Crêem que as pessoas consideradas "sábias" assim o são em razão do acúmulo de informações, o que, em tese, as prepararia para qualquer situação imposta pela Vida. Modesta e humildemente, creio que uma coisa não guarda qualquer relação com a outra. Já conheci pessoas que cursaram as melhores Universidades, concluíram seus estudos de Pós-Graduação, tornando-se até Doutores, que falam três ou quatro línguas , mas que não possuem um único fio de cabelo de sabedoria. Assim como conheci gente matuta, aqueles tipos do interior, de chinelo nos pés e chapeú de "páia" na cabeça, que são tão sábias que se parecem muito mais Doutores do que os próprios Doutores. Ao conversar com o "Doutor" e ao "prosear" com o matuto, a diferença entra ambos ficava latente. O primeiro achava que sabia tudo, absolutamente tudo. Especialmente sobre a carreira que havia abraçado. Já o segundo, por sua vez, analisava tudo e a todos para, então, tecer algum tipo de comentário sobre algum questionamento de minha parte. E sempre terminava as suas colocações saudando ou a Deus, ou à Natureza, como verdadeiros "senhores da sabedoria". O primeiro sequer possuía alguma religiosidade ou misticidade. Como explicar tal ilogicidade? O mistério do que vem a ser sabedoria não é nada moderno. Platão já tentava definir sabedoria através da seguinte afirmação: "A sabedoria consiste em ordenar bem a nossa própria alma". Para o mestre grego, portanto, a sabedoria real adviria da organização de nossos anseios, nossos desejos, do auto-conhecimento, não do conhecimento sobre qualquer coisa externa. Primeiro, para Platão, deveríamos nos conhecer para, somente após, buscarmos conhecer os outros e o Mundo ao nosso redor. Galileu Galilei, já mais proximamente, definia que "A maior sabedoria que existe é conhecer a si mesmo", tentando explicitar as palavras de Platão. Particularmente, creio que o auto-conhecimento é a ciência das ciências. Talvez seja muito mais doloroso, penoso, auto-conhecermo-nos do que apreender conceitos de Física, Química e Matemática. É muito difícil depararmo-nos, durante o processo de auto-conhecimento, com os "monstros" que existem dentro de nós! Eu iniciei, motivado por uma determinada pessoa, esse processo de auto-conhecimento há poucos meses. É, assim, uma obra apenas iniciada e sem prazo para terminar. Confesso, sem qualquer receio, que em determinados dias fica muito complicado e doloroso, fisicamente, tratar de questões internas, que habitam o âmago da minha alma. Mas ao expô-las, a sensação seguinte é de clareza, leveza e resignação. Somos criados e educados para sermos "perfeitos". Portanto, admitir que não somos e que existem, dentro de nós, diversos "nós", não é tarefa fácil. Somos todos, intrinsicamente, santos e putos; honestos e desonestos; amigos e inimigos; leais e desleais; bondosos e malígnos, feios e belos. Enfim, somos humanos, contraditórios. E agir como seres humanos, não como "seres perfeitos" é, ao meu sentir, a única e verdadeira sabedoria. Até porque, segundo Diderot, "A sabedoria não é outra coisa senão a ciência da felicidade". Sejamos, então, felizes, reconhecendo quem somos, por que somos e para que assim fomos concebidos! A felicidade decorrente desta ausência de pressão para sermos perfeitos é, sim, sabedoria!
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